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Thursday, June 27, 2013

A humilhação história de Portugal - Tratado de Tordesilhas, África e primeira guerra mundial

Irrita-me e sempre me irritou o facto de Portugal ter desaparecido do mapa histórico e ter perdido importância política, e sempre me perguntei "Se dividimos o mundo em duas partes com Espanha séculos atrás, se tivemos um dos império mais compridos da história, de facto o mais longo ultramar porque caímos no esquecimento?" e este ano em história tirei a minha maior dúvida histórica. De facto, do que nos valem as memorias gloriosas, daqueles reis que foram dilatando a fé, o império, e as terras viciosas de África e de Ásia quando hoje a própria Europa se ri de nós e o mundo não nos conhece? Irrita-me profundamente, porque faço parte de um país importante mas que ninguém conhece. Se ao menos os réis de Portugal tivessem aceite Cristóvão Colombo... O mundo seria nosso!
Durante muito tempo tive essa ideia na minha mente, irritava-me profundamente que por um erro estúpido Portugal tivesse perdido o mundo, mas mais tarde entendi com maturidade que a minha ideia não fazia sentido. O que estaríamos nós a fazer como país? Teríamos caído na tirania, a glória teria destruído a nossa humanidade, não seriamos melhor que Roma e cairíamos como ela, ou pior. A minha teoria era: Sem Espanha para dividir o mundo no tratado de Tordesilhas, Portugal podia fazer o que quisesse e colonizar o mundo. Mas claro, eu na altura não percebia que mais tarde ou mais cedo viria o resto da Europa para nos roubar o império, que de facto viriam a roubar mais tarde, ou foi Portugal que desistiu dele? Sim, nós desistimos do império porque achamos que seriamos donos do mundo para sempre, e quando o quisemos de volta era meados do século XX e já não o queríamos para nada.
Este ano o que me apercebi é que quando estivemos sob o domínio dos réis da Espanha, naqueles 70 anos, Portugal era Espanha, por isso muitas vezes não se fala do nosso nome, fala-se em Cristovão Colombo, fala-se da América Latina mas o monopólio está nas mãos dos espanhóis, a nossa maldita glória de descobridores está na mão dos espanhóis, e é essa uma das razões pelas quais somos omitidos nos documentários, porque quando vão procurar pelos documentos da época, Portugal faz parte da Espanha.
Tratado de Tordesilhas
Mas não foram só os espanhóis, não sei por quê os portugueses pensam que está tudo bem sempre e deixam-se iludir facilmente, durante alguns séculos nós somos uma nação rica (pelo menos a corte e a nobreza) mas o que o pessoal fez como ouro do Brasil e as receitas do oriente foi desperdício, nunca investimos, o dinheiro estava nas mãos de uma nobreza de armas que não percebia nada de economia, e a nossa burguesia que podia ter feito o investimento foi perseguida e acabaram por fugir grande maioria para à Holanda. Não tardou a que países mais inteligentes começassem a exigir o mundo, toda a gente queria colónias, e aparecem as treze colónias americanas, os franceses também começam a chegar à África, e lentamente o domínio económico é-nos roubado através de tratados.
Entretanto o Brasil pede a independência, o D. Pedro IV declara-o como um império à parte e mais tarde, no fim do século XIX Inglaterra lança-nos o ultimato do mapa cor-de-rosa, if you don't give us the colony we want then you are a deadman buddy, durante esse tempo houve imensos projectos para dominar a África, incluindo o projecto alemão que não é aceite, o que vai levar a Europa à primeira guerra mundial, Portugal cede a Inglaterra, vantagens: não entramos em guerra com ninguém, desvantagens: somos humilhados, é nesta altura que vai surgir o nosso hino actual em resposta à decisão régia, contra os canhões marchar marchar! Caso não saibam, o mapa Africano foi traçado pela Europa, é por isso que há territórios tão rectilíneos, muitas vezes as fronteiras são apenas artificiais.
Depois cai a monarquia e entramos na ditadura de Salazar, Salazar não quer dar liberdade política às colónias africanas como o resto da Europa deu, entramos na guerra colonial e perto do fim da ditadura o povo português em destaque para os jovens universitários de Coimbra deixam bem claro que não concordam com a guerra e querem dar a liberdade aos povos africanos, cai a ditadura e Portugal perde as colónias, em 1974 o mais vasto império ultramar cai. E ainda bem que caiu.
A razão pela qual desaparecemos do mapa história é porque no fim da questão ultramar europeia quem ganhou foi Inglaterra que ficou com a glória, com a economia desenvolvida, e é mais atual que Portugal em termos colonial, conseguindo dominar culturalmente, tanto as ex-colónias inglesas como Inglaterra ganharam essa guerra ultramar que Europa disputou durante séculos, eles ficaram com o império que Portugal criou, primeiro a discussãp foi Portugal vs Espanha, depois França vs Inglaterra, depois Inglaterra vs Holanda, e no fim Inglaterra vs Alemanha. Como podem ver fomos completamente humilhados, varridos, esquecidos.
Sinceramente, não me faz a mínima diferença que os ingleses tenham ganho, eu admiro Inglaterra e hoje a minha noção de império português é a língua portuguesa, e o Brasil está a ter um papel muito importante na construção desse império linguístico. Sendo nacionalista não consigo concordar com o imperialismo político-económico, apenas gostava que o mundo soubesse que não somos só um país em crise, somos Portugal, e omitirem os nossos feitos históricos é algo que não me deixa nada feliz.

Wednesday, June 26, 2013

Como assim processo criativo? - Dois processos criativos

O processo criativo é algo, pelo menos na minha opinião essencial na construção de uma obra literária. Há imensos processos criativos relacionados com as mais imensas áreas, muitos filósofos se debruçaram no tema da imaginação humana, e penso que sendo a escrita uma arte muitas vezes solitária e individual os processos criativos variam de pessoa para pessoa, e seria necessário contabilizar o número de pessoas que gostam de escrever para contabilizar o número de processos criativos. Há quem goste de escrever e depois pesquisar, há quem goste de pesquisar e depois escrever, há quem não faça pesquisa nem materialize o processo criativo, mas ele esta lá na mente da pessoa. Existem listas, esquemas, resumos, sei lá, há mil e uma formas de tentar por no papel as primeiríssimas ideias, ou até aquelas que vão acompanhando o desenrolar da história.

Eu por exemplo gosto de fazer mapas de ideias:

A vantagem destes mapas é que podemos colocar imensas ideias da história que pretendemos contar, desde  lugares, personagens às fontes mitológicas, histórias, científicas, etc. A única desvantagem que vejo é ficar messy, mas eu nunca me perdi.

Neste post vou falar-vos de dois processo criativos que encontrei, o primeiro é da Disney, o segundo é para quem gosta de fantasia. Do processo da disney saíram filmes como como Pinóquio, Branca de neve e Bambi. O processo é simples mas pareceu-me bastante eficaz.

Todas as ideias geradas pela equipe de trabalho da Disney eram desenvolvidas por três salas, cada uma com sua função definida:

SALA 01: muito parecida com um brainstorm. É a sala para sonhar, sem restrições, sem limites. As ideias são desenvolvidas de forma livre.

SALA 02: o que é sonhado na SALA 01 é organizado através de um storyboard, no qual se apresenta uma sequência de desenhos, como uma história em quadrinhos, que serve de guia para a animação. Uma espécie de roteiro visual. Assim, criam-se eventos e personagens que se encaixam em uma sequência.

SALA 03: uma sala pequena, embaixo de uma escada, onde a equipe poderia criticar e rever o projeto, sem pressões ou barreiras. O que se critica nesta sala não é o projeto particular de um indivíduo e, sim, o todo.

Desta forma, a ideia retornava para a SALA 1 para que o projeto continuasse. O ciclo sempre envolvia essas três salas. Ou a ideia não sobreviveria a SALA 3, sendo abandonada, ou o silêncio da SALA 3 indicava que a ideia estaria pronta para a produção.


Esta estratégia envolvia três papéis por parte da equipe na sequência indicada:

SONHADOR: acredito que tudo é possível.
REALISTA: penso melhor sobre as coisas.
CRÍTICO: procuro as peças que não se encaixam.


fonte aqui
Apesar de ser um processo em conjunto não há mal em encaixa-lo num processo individual, basta substituir salas por folhas de papel e saber encarar os três papéis. 

No segundo processo que vou falar não há propriamente uma sequência, apenas algumas dicas.

Afinidades - “Este caso particular da fantasia leva-nos a ter em consideração que todas as coisas podem ser vistas de outros modos.” 
No livro "O principezinho" a figura no topo é tema de discussão, para os adultos é um chapéu, para a personagem é uma jibóia a comer um elefante

Inversão - Inverter situações, este processo pode ser irónico e divertido


Repetição - Repetir o que já foi feito antes, não no sentido de copypaste mas por exemplo, podemos procurar fantásticas criaturas nas mais variadas mitologias ou ir até a inquisição espanhola para encontrar a mais terrível das armas de tortura
A fénix

Mudanças - As mudanças podem dar-se em: Cor, matéria, lugar, função, movimento, dimensão ou peso.

  • Cor: O cabelo dela é castanho, mas e se for roxo?
  • Matéria: E se a água fosse fogo?
  • Lugar:
  • Função: A vassoura serve para varrer, mas e que tal para voar? 

  • Movimento: Os gatos não flutuam, mas e daí?

  • Dimensão: Dante recriou o inferno, para ele quanto pior fosse o crime pior seria o castigo, assim haviam vários círculos para onde iam as almas:

  • Peso: É bastante comum nos desenhos animados, o professor é mais pesado que as The Powerpuff Girls no entanto isso não as impede de segurá-lo com um único dedo ou mão
    Fusão: O hipogrifo tem patas traseiras e cavalo, e cabeça e garras e águia

Uma imagem, 140 caracteres - Blogagem do Christian

Mais em informação aqui
Quem diria que eu e tu seriamos separadas pela chuva mais fraca quando temos em nós a força das tempestades.

Sunday, June 23, 2013

O romance e o romantismo

'Nenhum olhar' foi o primeiro romance que escrevi, quando eu o escrevi não tinha a certeza que era capaz de escrever um romance, e isso fez com eu fosse escrever o que tinha dentro de mim há muito tempo foi o que José Luís Peixoto disse numa entrevista (link aqui) na qual resumiu um pouco do "por quê" de vários livros publicados, entre eles O cemitério de Pianos, Nenhum Olhar, Uma casa na escuridão e Antídoto. Os primeiros romances portugueses contemporâneos que li foram de José Luís Peixoto e penso que ele se destaca pela maneira terrível que escreve, pela sua percepção claustrofóbica do tempo e sobretudo pela sua originalidade e os seus mecanismos complexos de intrigas. Noutra entrevista sobre o seu livro chamado Livro (link aqui), ele explica o por quê de escrever obras em romance, Eu acho que pela natureza do próprio género o romance aspira toda essa complexidade ao nível da profundidade das personagens e enredos, porque o romance tenta imitar a vida, e a vida é particularmente complexa, e muitas vezes contraditória e paradoxal
O romance ganhou importância com o romantismo, este género de narrativa é como uma epopeia mas simplificada, o que a epopeia faz é contar uma história como num romance mas num poema muito grande, um grande exemplo é Os Lusíadas de Camões, o que os românticos decidiram fazer foi teatro e narrativas quebrando as regras formais deixando a linguagem solta como falada, e os primeiros romances surgem com o romantismo, daí o nome. Para os se estão a perguntar o que é o romantismo, não confundam romantismo com a conceção atual da palavra Romance ou Romântico, não tem muito haver, o romantismo foi um movimento literário que teve a sua hegemonia no século XIX extremamente emocional e crítico, era a expressão da liberdade, do individualismo, do nacionalismo e do liberalismo, valorizava o sonho e a fantasia. Em Portugal fez-se o culto à idade medieval porque ela é a base das sociedades europeias actuais, e na minha recente pesquisa descobri que no Brasil como não haviam nem donzelas nem cavaleiros medievais optou-se pelo culto do índio que me parece ser uma figura ideal para fazer o culto à liberdade. 
A liberdade guiando o povo
O romance é atualmente, pelo menos eu acho, uma das formas mais "importantes" de fazer literatura, apesar de não haver um movimento literário forte como houve no século XIX, hoje os escritores gostam de ser romancistas porque é uma forma simples e complexa de escrever, é tal como a vida, como diz Peixoto, por um lado podemos escrever em prosa o que nos faz adquirir uma enorme flexibilidade, não há que pensar em rimar ou na métrica como na Epopeia, por outro, essa flexibilidade é uma porta aberta à imaginação, normalmente os romances estão divididos em capítulos, mas podemos dividir o nosso livro como nos apetecer, no livro Cemitério de Pianos de Peixoto o tempo para além de estar dividido em quilómetros o autor abre um buraco no tempo e ora fala de uma geração ora de outra chegando a interromper frases. Além disso os temas são infinitos, o espaço, o tempo, as personagens, narrador são existências tão variáveis, cada um pode fazer o que quiser, e como quiser. 

Os exames e greves


Eu sei que este blog é suposto ser sobre literatura e escrita criativa mas acho que nunca me vou conseguir despegar da maneira como faço blogs, apesar de não gostar de expor a minha vida nem revelar a minha verdadeira "identidade", eu acabo sempre por falar das coisas que me acontecem e das coisas que eu vejo, e algo recente que aconteceu foi a greve no dia do exame de português, bem, recente como quem diz, foi na semana passada. Eu não fiz exame de português porque só o tenho para o ano, e basicamente, o exame de português é o exame que toda a gente faz para entrar na universidade ou pelo menos acabar o secundário, seja qual for o curso, sejas de humanidades como eu, de ciências de artes ou de economia, é o exame mais importante porque toda a gente o faz (por acaso é o exame mais importante que eu vou fazer). E o que aconteceu na passada segunda-feira foi o seguinte: Houve greve de professores, logo, como sabem, escolas não tinham professores suficientes para fazer a vigilância, uns não abriram nenhuma sala, outros metade da escola fez exame e poucas funcionaram sem problemas, e as poucas que funcionaram foram afetadas por manifestações e invasões.
E é difícil conseguir formular uma opinião sobre isto, por um lado, eu estou deste lado, do lado dos alunos que querem estudar e ter um futuro, andei a trabalhar, andei a ser educada para estes exames que fazemos no final do ano, foi um trabalho meu mas também dos meus professores e em conjunto fazemos destacar a escola na cidade e no distrito, não somos os que tiramos as melhores médias mas chegamos aos exames e subimos as notas, e há então este orgulho de dizer que o exame foi fácil porque os testes ao longo dos últimos três anos foram mais difíceis, mas o que acontece quando toda a gente se divide e exige os seus direitos?
Eu estou chateada porque apesar de não ter tido problemas com os exames eu não sei com quanto fui a exame, não sei se fui com 15 ou 14, e ir a exame cegamente é algo injusto, há algum professor que fez greve e impediu que saíssem as nossas notas, isto quebra a relação de professor e aluno, afinal estão contra o estado que vos está a cortar salários e aumentar horários de trabalho ou contra os alunos que foram apanhados no meio de uma crise e não tem culpa de nada? É difícil formular uma opinião, eu sou aluna, fui prejudicada, mas há também a questão de que os professores estão a sofrer com os cortes e que tem o direito de lutar pelo que é deles, é difícil, mas estou deste lado e já que vocês querem os vossos direitos eu quero os meus, e não basta dividirem professores e alunos, os alunos também foram divididos por vossa causa! Se há alunos que tem o exame dia 2 de Julho porque não puderam fazer na semana passada, estes estão a ter mais tempo para estudar do que aqueles que foram a primeira fase sem problema. Já chega, não somos marionetas nem dos sindicados, nem da associação de pais nem muito menos do ministério da educação, da GAVE ou dos senhores da troika!
Se fossem os vossos filhos a ter de fazer um exame com uma manifestação à porta da escola como aconteceu em Aveiro ou se as salas fossem invadidas durante o exame, como em Braga, por alunos que não puderam fazer exame a cantar a Grândola, iam gostar? Iam gostar que os vossos filhos passassem por isso? Foram vocês que fizeram a revolução dos cravos, vocês é que deviam ter usado bem os fundos europeus, agora paguem vocês a dívida de 70 anos em vez de nós, acho que seria justo, mas enfim, somos um país e quando vocês morrerem nós havemos de herdar as vossas dívidas. Viva o 25 de Abril!
Todos temos direitos, mas isto vai destruir-nos, vamos aumentar a dívida se continuarmos a parar a economia, vamos piorar o estado social se exigirmos os nossos direitos e nos esquecer-mos que os outros também tem os seus, a minha geração vai ter de limpar o chão que vocês sujaram, vamos ter de reconstruir o país, tratem-nos com respeito se querem reformas, eu compreendo os professores, mas somos um país, um só povo, e precisamos de nos organizar se queremos sair desta crise, estas manifestações e greves são inúteis se não houver um projecto, já passamos a fase da revolta, agora é necessário trabalhar pelo que nos revoltamos.

Saturday, June 22, 2013

História da língua portuguesa e o primeiro movimento literário

Blá blá blá o português é a quinta língua mais falada do mundo, o português fala-se na Europa, na África e na América Latina, toda a gente sabe essa história. Mas como surgiu e onde? Sim, sim do latim eu sei e em Portugal, não me digam, mas pensam que o português simplesmente mutuou do latim e as pessoas de Lisboa começaram de um dia para o outro e do nada a falar português?
Pensem duas vezes, é assim que surge a língua que portugueses, brasileiros e outros mais falam hoje em dia:
O português surgiu no norte de Portugal, a região onde os portugueses são mais "violentos" e nem se quer se dão ao trabalho de distinguir o v do b, o sotaque é bastante forte nalgumas regiões do norte do país. A língua portuguesa é estranha, quer dizer, é uma mistura de latim, com árabe, céltico-lusitano, com galego, coisa mais esquisita, e a coisa piora quando em Portugal rapariga significa moça e no Brasil prostituta. Quanto aos verbos, nós mantive-mo-nos bastante fieis à conjugação latina, pelo menos nas pessoas, ego é hoje eu, tu é tu, ille é ele, illa é ela, nos é nós, illi é ele(a)s e vos é vós. Em latim amo-te (pt) ou te amo (br) diz-se ámo-te e te ámo. Por mais estranho que pareça, não se sabe muito sobre a língua dos lusitanos, nome que se dá muitas vezes aos portugueses actuais, e até aos que falam português, lusófonos, os lusitanos são um povo sem história e sem língua. Pronto, já chega de história, vamos à literatura.
A literatura portuguesa, ou galaico-portuguesa vem surgir primeiro em poesia como é comum acontecer, provavelmente em finais do século X, no entanto a língua portuguesa só é oficializada  em 1297 pelo rei poeta D. Dinis. Vamos ao que interessa, a poesia, o primeiro movimento literário da nossa língua é o trovadorismo, por quê a poesia e não prosa? Porque a prosa é complexa e é necessário saber ler, e ler na idade medieval era um luxo, a prosa como a conhecemos hoje só se vai desenvolver por volta do século XIX (penso eu) mas isso já é outra história, a poesia tem rima, métrica e é por isso que é fácil, não é necessário ler, daí ser facilmente possível decorar uma canção de uma língua que não dominamos muito bem. O trovadorismo pode ser lido ou cantado, o trovador compõem e canta, o jogral só canta (mas isto não é linear, um jogral podia interpretar algo que tivesse escrito), são acompanhados por algum instrumento musical como uma harpa, flauta ou guitarra e às vezes havia uma bailarina chamada de soldadeira, a soldadeira ficava com fama de prostituta. O trovador canta sobre o amor, é um pobre apaixonado, um cavalheiro, critica e gosta de ofender. O que diferencia o trovadorismo português do movimento, que apesar de ser surgido em Portugal se espalhou por toda a Europa, é a simplicidade e sinceridade, o amor é verdadeiro, puro, no sentido que o descreve como é e não como as pessoas o sonham. No tempo este tipo de lírica era bastante erótica, de facto, trovadorismo significa desejo ardente de posse, quando na poesia medieval se fala de uma mulher a lavar os cabelos isso equivale à pornografia atual. 
Os vários géneros do trovadorismo são: As cantigas de amigo, as cantigas do amor e as cantigas de escárnio e mal-dizer. O sujeito poético das cantigas de amigos é uma mulher, apesar do autor ser um homem, exprimem dramas da vida da amorosa, da pobre donzela, como se falassem com uma amiga, a mãe ou um amigo (tenho a certeza que foi abandonado na friendzone hahaha). As cantigas de amor são confissões dolorosas e ilegítimas da vida amorosa. Já as cantigas de escárnio e de maldizer são as as que gostam de criticar a sociedade e apelar ao bom senso, não tem então nada haver com amor ou sexo, as cantigas de escárnio são como "indiretas", as de maldizer não tem qualquer problema de ofender quem seja, denunciam o nome, estas cantigas acabavam por ser escandalosas no seu tempo e supostamente são engraçadas, só que é necessário aulas para entendê-las. Lembrem-se que o amor na idade média era um fruto proibido e a sociedade estava dividida em ordens, não podem haver mudança de ordem a não ser por decisão régia, nascia-se na nobreza morria-se nobre, nascia-se camponês morria-se sem nome.  

Primeira cantiga que se tem conhecimento (tirei deste site):

Rubrica:
Esta cantiga é de maldizer e feze-a Joam Soárez de Pávia a 'l-rei Dom Sancho de Navarra porque lhi troub'host'em sa terra e nom lhi deu el-rei ende dereito.


Ora faz host'o senhor de Navarra,

pois em Proenç'est el-rei d'Aragom;

nom lh'ham medo de pico nem de marra

Tarraçonapero vezinhos som,

5nem ham medo de lhis poer boçom
e riir-s'-am muit'em dura edarra;
   mais se Deus traj'o senhor de Monçon,

bem mi cuid'eu que a cunca lhis varra.
  
Se lh'o bom rei varrê'la escudela
  10que de Pamplona oístes nomear,
  mal ficará aquest'outr'em Todela,

que al nom há [a] que olhos alçar:

ca verrá i o bom rei sejornar
e destruir atá burgo d'Estela,

15e veredes Navarros lazerar

e o senhor que os todos caudela.
  
Quand'el-rei sal de Todela, estrẽa
ele sa host'e tod'o seu poder;
bem sofrem i de trabalh'e de pẽa,
20ca vam a furt'e tornam-s'em correr;

guarda-s'el-rei, com'é de bom saber,

que o nom filhe luz em terra alhẽa,

e onde sal, i s'ar torn'a jazer

ao jantar ou se nom aa cẽa.

Esta cantiga, que é certamente uma das mais antigas que os cancioneiros nos transmitiram, pelo menos a mais antiga que pode ser datada, alude a um contexto histórico preciso: as lutas travadas entre o rei D. Sancho VII de Navarra e os reis de Aragão e de Castela, depois da derrota de Alarcos em 1195. Tendo em conta este contexto, a composição deverá ter sido composta, pois, nos anos finais do século XII, talvez por volta de 1196.
Como referem a cantiga e a rubrica, o rei de Navarra, a partir da sua praça-forte de Tudela, aproveitaria a ausência do rei de Aragão (que poderá ser Afonso II ou Pedro II) na Provença para lhe invadir e devastar as terras, o que para o trovador português, senhor de algumas propriedades na região de fronteira entre os dois reinos, era uma atitude cobarde. Será a uma dessas saídas da hoste navarra, num percurso que terá incluído a passagem hostil pelas terras de João Soares, que a rubrica alude (mas não a cantiga, que coloca a questão em termos gerais).
Em ambos os manuscritos, a cantiga vem precedida da conhecida rubrica geral: Aqui se começom as cantigas d´escarnh´e de maldizer, vestígio da programada divisão tripartida de géneros que organizava os Cancioneiros.

Friday, June 21, 2013

O Grémio dos vencidos da vida

Um grémio é um conjunto de profissionais de alguma coisa, porém em Portugal "grémio" ganha um novo significado através do Grémio Literário criado pelos escritores e revolucionários Garrett e Herculano, o seu objetivo era a atividade intelectual em imensas áreas do conhecimento, o edifício do Grémio Literário continua a existir em Lisboa hoje mas já não tem a importância cultural de antes.
Mais tarde, surge a geração de 70, da qual o Eça de Queirós pertenceu, a geração de 70 ou a geração de Coimbra era um grupo boémio de universitários determinado a mudar o país, porém, como não conseguiram de facto mudar o país, consideraram-se uns vencidos da vida. O grupo dos "Vencidos da vida" acabou por ganhar importância já que grandes personalidades como Antero de Quental e sobretudo Eça de Queirós faziam parte dele, o que estes escritores fizeram foi criticar a sociedade aristocrática do tempo através da caricatura, do naturalismo e do realismo, o grupo acabaria por desmoronar-se mais tarde.

Eu sei que falo de muitos conceitos e nomes que para muitos podem ser novidades mas é daqui que surge este blog que pretende ser sobre literatura e escrita.


Assuntos que quero falar por aqui: 
-Estilos/correntes literárias
-Escrita Criativa
-Opiniões sobre livros
-Pequenas biografias de grandes escritores
-Críticas da actualidade no contexto ou não da literatura