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Saturday, June 22, 2013

História da língua portuguesa e o primeiro movimento literário

Blá blá blá o português é a quinta língua mais falada do mundo, o português fala-se na Europa, na África e na América Latina, toda a gente sabe essa história. Mas como surgiu e onde? Sim, sim do latim eu sei e em Portugal, não me digam, mas pensam que o português simplesmente mutuou do latim e as pessoas de Lisboa começaram de um dia para o outro e do nada a falar português?
Pensem duas vezes, é assim que surge a língua que portugueses, brasileiros e outros mais falam hoje em dia:
O português surgiu no norte de Portugal, a região onde os portugueses são mais "violentos" e nem se quer se dão ao trabalho de distinguir o v do b, o sotaque é bastante forte nalgumas regiões do norte do país. A língua portuguesa é estranha, quer dizer, é uma mistura de latim, com árabe, céltico-lusitano, com galego, coisa mais esquisita, e a coisa piora quando em Portugal rapariga significa moça e no Brasil prostituta. Quanto aos verbos, nós mantive-mo-nos bastante fieis à conjugação latina, pelo menos nas pessoas, ego é hoje eu, tu é tu, ille é ele, illa é ela, nos é nós, illi é ele(a)s e vos é vós. Em latim amo-te (pt) ou te amo (br) diz-se ámo-te e te ámo. Por mais estranho que pareça, não se sabe muito sobre a língua dos lusitanos, nome que se dá muitas vezes aos portugueses actuais, e até aos que falam português, lusófonos, os lusitanos são um povo sem história e sem língua. Pronto, já chega de história, vamos à literatura.
A literatura portuguesa, ou galaico-portuguesa vem surgir primeiro em poesia como é comum acontecer, provavelmente em finais do século X, no entanto a língua portuguesa só é oficializada  em 1297 pelo rei poeta D. Dinis. Vamos ao que interessa, a poesia, o primeiro movimento literário da nossa língua é o trovadorismo, por quê a poesia e não prosa? Porque a prosa é complexa e é necessário saber ler, e ler na idade medieval era um luxo, a prosa como a conhecemos hoje só se vai desenvolver por volta do século XIX (penso eu) mas isso já é outra história, a poesia tem rima, métrica e é por isso que é fácil, não é necessário ler, daí ser facilmente possível decorar uma canção de uma língua que não dominamos muito bem. O trovadorismo pode ser lido ou cantado, o trovador compõem e canta, o jogral só canta (mas isto não é linear, um jogral podia interpretar algo que tivesse escrito), são acompanhados por algum instrumento musical como uma harpa, flauta ou guitarra e às vezes havia uma bailarina chamada de soldadeira, a soldadeira ficava com fama de prostituta. O trovador canta sobre o amor, é um pobre apaixonado, um cavalheiro, critica e gosta de ofender. O que diferencia o trovadorismo português do movimento, que apesar de ser surgido em Portugal se espalhou por toda a Europa, é a simplicidade e sinceridade, o amor é verdadeiro, puro, no sentido que o descreve como é e não como as pessoas o sonham. No tempo este tipo de lírica era bastante erótica, de facto, trovadorismo significa desejo ardente de posse, quando na poesia medieval se fala de uma mulher a lavar os cabelos isso equivale à pornografia atual. 
Os vários géneros do trovadorismo são: As cantigas de amigo, as cantigas do amor e as cantigas de escárnio e mal-dizer. O sujeito poético das cantigas de amigos é uma mulher, apesar do autor ser um homem, exprimem dramas da vida da amorosa, da pobre donzela, como se falassem com uma amiga, a mãe ou um amigo (tenho a certeza que foi abandonado na friendzone hahaha). As cantigas de amor são confissões dolorosas e ilegítimas da vida amorosa. Já as cantigas de escárnio e de maldizer são as as que gostam de criticar a sociedade e apelar ao bom senso, não tem então nada haver com amor ou sexo, as cantigas de escárnio são como "indiretas", as de maldizer não tem qualquer problema de ofender quem seja, denunciam o nome, estas cantigas acabavam por ser escandalosas no seu tempo e supostamente são engraçadas, só que é necessário aulas para entendê-las. Lembrem-se que o amor na idade média era um fruto proibido e a sociedade estava dividida em ordens, não podem haver mudança de ordem a não ser por decisão régia, nascia-se na nobreza morria-se nobre, nascia-se camponês morria-se sem nome.  

Primeira cantiga que se tem conhecimento (tirei deste site):

Rubrica:
Esta cantiga é de maldizer e feze-a Joam Soárez de Pávia a 'l-rei Dom Sancho de Navarra porque lhi troub'host'em sa terra e nom lhi deu el-rei ende dereito.


Ora faz host'o senhor de Navarra,

pois em Proenç'est el-rei d'Aragom;

nom lh'ham medo de pico nem de marra

Tarraçonapero vezinhos som,

5nem ham medo de lhis poer boçom
e riir-s'-am muit'em dura edarra;
   mais se Deus traj'o senhor de Monçon,

bem mi cuid'eu que a cunca lhis varra.
  
Se lh'o bom rei varrê'la escudela
  10que de Pamplona oístes nomear,
  mal ficará aquest'outr'em Todela,

que al nom há [a] que olhos alçar:

ca verrá i o bom rei sejornar
e destruir atá burgo d'Estela,

15e veredes Navarros lazerar

e o senhor que os todos caudela.
  
Quand'el-rei sal de Todela, estrẽa
ele sa host'e tod'o seu poder;
bem sofrem i de trabalh'e de pẽa,
20ca vam a furt'e tornam-s'em correr;

guarda-s'el-rei, com'é de bom saber,

que o nom filhe luz em terra alhẽa,

e onde sal, i s'ar torn'a jazer

ao jantar ou se nom aa cẽa.

Esta cantiga, que é certamente uma das mais antigas que os cancioneiros nos transmitiram, pelo menos a mais antiga que pode ser datada, alude a um contexto histórico preciso: as lutas travadas entre o rei D. Sancho VII de Navarra e os reis de Aragão e de Castela, depois da derrota de Alarcos em 1195. Tendo em conta este contexto, a composição deverá ter sido composta, pois, nos anos finais do século XII, talvez por volta de 1196.
Como referem a cantiga e a rubrica, o rei de Navarra, a partir da sua praça-forte de Tudela, aproveitaria a ausência do rei de Aragão (que poderá ser Afonso II ou Pedro II) na Provença para lhe invadir e devastar as terras, o que para o trovador português, senhor de algumas propriedades na região de fronteira entre os dois reinos, era uma atitude cobarde. Será a uma dessas saídas da hoste navarra, num percurso que terá incluído a passagem hostil pelas terras de João Soares, que a rubrica alude (mas não a cantiga, que coloca a questão em termos gerais).
Em ambos os manuscritos, a cantiga vem precedida da conhecida rubrica geral: Aqui se começom as cantigas d´escarnh´e de maldizer, vestígio da programada divisão tripartida de géneros que organizava os Cancioneiros.

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